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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Front

Eu juro, gostaria de escrever algo cheio de açúcar como a postagem anterior. Mas em dias como hoje, situações com essa, não dá. Me sinto indignada, presa, com amarras nos meus pulsos que me impedem de fazer algo significativo. Não, eu estou bem, mesmo. Estou na minha casa, com meus pais e minha irmã, onde o ambiente é maravilhoso. Mas, há algo que não se encaixa, e concluo que tenho essas coisas quando volto pra casa, como se um pedaço de mim voltasse a respirar, fugindo de uma vida semi mecânica, mas que gosto muito.
Hoje (ainda é 23:59) faz uma semana que um homem da minha cidade morreu. Não o conheço, não conheço sua família, mas sei que ele tem dois filhos (acho), entre eles uma menina que não deve nem imaginar que eu existo, mas que eu a conheço, de certa forma. Ela figurou um determinado evento que acontece de tempos em tempos aqui, e como ela sempre estudou em escolas de turmas pequenas é fácil reconhecer. Enfim, o pai dela morreu. Como eu disse, não a conheço, ela não me conhece, mas rezei por ela e pela mãe dela, para que o sofrimento não se alastrasse mais que o necessário. Ao que parecia, ela tinha uma vida ótima, linda, cheia de amigos, festas, pessoas legais, bons colégios. No entanto, o pai dela não está mais aqui, e isso me fez pensar em várias coisas.
Por que algumas pessoas precisam passar por isso? Será que suas vidas realmente mudarão depois, será que serão pessoas 'melhores'? Será que para ser melhor é preciso perder um pai ou uma mãe, para que dessa forma algo amadureça em suas almas e seus corações?
Comparando grosseiramente, é como algumas pessoas mais velhas dizem que embora a ditadura militar no Brasil tenha existido, muito progresso se fez. Mas, será que para ter progresso é preciso tanta violência, tantas mortes, tantos desaparecidos?
Eu sei, essa é a 'ordem natural' das coisas, onde os pais, teoricamente, morrem antes dos filhos. Mas, não consigo deixar de pensar nas lágrimas e no sofrimento de quem passa por isso. Inevitável não se colocar no lugar, não imaginar isso acontecendo consigo. Pior, o sofrimento dos outros escorre pra mim. Tem gente que se emociona com livros. Tem gente que se emociona com filmes que cachorros morrem. Já eu, não consigo ser indiferente ao sofrimento humano, como aconteceu quando assisti Frida.
E se a morte de quem é muito importante para outro alguém fizer diferença, se ela for evitada, é possível que a mudança ocorra? Falando em Frida, confesso que seus quadros são perturbadores para mim. Não consigo vê-los sem sentir pregos na garganta, como se proliferassem espinhos em mim. Talvez, se ela não tivesse sofrido o acidente, se achasse alguém mais legal que Diego Rivera para viver, a sua genialidade ficaria em estado de latência. Jamais teria feito quadros com tanto sofrimento, sentimento, emoção. Ou, talvez não.
Talvez esteja na hora de eu parar de dar tanto murro em ponta de faca. Aceitar que algumas coisas precisam acontecer. Aceitar que não posso mudar algumas coisas. Aceitar que algumas pessoas não vão falar com você, não te darão nem boa noite.
O problema é que isso não faz parte de mim. Sou instável, explosiva, contestadora, indignada e além de tudo, de leão. Meu pior defeito sempre foi ir atrás do impossível, aguentar. Eu acredito na mudança das coisas. Acredito que somos donos dos nossos destinos. Não acredito que joguinhos funcionem. Mas, talvez esteja na hora de enfrentar as coisas como são, enfrentar os quadros de Frida Kahlo, travar mais uma guerra contra mim mesma. Não ter medo do que pode acontecer, sair com a certeza de que fiz o meu melhor. E sim, dane-se a opinião alheia.